colab
Entrevista: presidente do Sindjors fala sobre obrigatoriedade do diploma, fake news e novas oportunidade no mercado jornalístico
“Nós jornalistas sofremos um golpe do Judiciário brasileiro...em 2009” - diz presidente do Sindijors sobre retirada da obrigatoriedade do diploma de jornalismo

Laura Rocha tomou posse como presidente do Sindijors em 2022
Crédito: Arquivo Pessoal / Divulgação
Em entrevista para a faculdade, a presidente do Sindicato dos Jornalistas do RS (Sindjors), Laura Santos Rocha, explicou como está a situação da PEC do Diploma na Câmara dos Deputados, falou sobre as tendências da profissão e deu algumas dicas para os alunos de jornalismo que desejam conquistar uma vaga no mercado de trabalho.
Confira o bate papo completo:
Colab: Quais as oportunidades que o digital traz hoje para os formandos de jornalismo que antes, na sua época, não existiam?
Sindjors: Os avanços tecnológicos foram muitos, e de certa forma bombásticos, nos últimos anos. Antigamente, as matérias para os jornais e para as revistas eram escritas, pensadas e elaboradas em máquinas de escrever. Posteriormente, diagramadas com régua paicas e encaminhadas para as gráficas poderem montar os linotipos, em uma máquina inventada que fundia em blocos cada linha de caracteres tipográficos, para montar a página que seria impressa. Assim, chegava na casa das pessoas, e ainda hoje em alguns lugares, o material impresso para leitura. O primeiro computador surgiu no Brasil apenas em 1972 como uma grande novidade, com valores muito altos e de difícil acesso para a sociedade. A evolução técnica das ferramentas utilizadas, do jornalismo impresso ao on-line, já é um assunto antigo e tratado nos meios acadêmicos. Ou seja: este não é um tema novo e, sim, uma situação constante de mudança na nossa profissão.
Depois vieram os avanços tecnológicos nas rádios e nas TV’s que tinham, anteriormente, enormes antenas parabólicas em morros altos para poderem captar os sinais e chegar com as notícias no maior número de casas possíveis. Assim, com tantas mudanças necessárias para avançar e atingir mais pessoas com noticiários de qualidade, as empresas de comunicação e profissionais jornalistas precisaram aprender a se reinventar para seguir atuando em um mercado cada vez mais competitivo. A tecnologia foi implementada e as redes de fibra óptica utilizadas. Mas de uma coisa não podemos abrir mão, em hipótese alguma, que é o papel social importante que precisamos exercer mantendo uma comunicação pública de qualidade e com a importante missão de combater as notícias falsas: as famosas fake news.
O digital traz a instantaneidade da informação. Na minha época de estudante as notícias chegavam mais rapidamente nas rádios, depois o telejornal noticiava e só no dia seguinte o jornal contava novamente a história sempre com a ideia de aprofundá-la. Hoje entramos ao vivo de qualquer lugar com um telefone celular, postamos nas redes. Quem precisou se reinventar principalmente foi o rádio para acompanhar os avanços das tecnologias. Hoje em dia as principais empresas de rádio usam imagens e postam nas redes seus programas.
Colab: Quais as principais dicas que a senhora, como presidenta do Sindjors, pode dar para aquele formando de jornalismo que está tentando entrar no mercado de trabalho?
Sindijors: Existe uma grande diferença entre ser um jornalista profissional diplomado e qualificado para exercer a sua profissão, registro no Ministério do Trabalho e com o comprometimento de ouvir sempre os dois lados de uma notícia do que ser o âncora ou apresentador de um noticiário. O verdadeiro repórter é aquele que está nos bastidores procurando fatos para melhor informar a sociedade. Jornalismo requer estar informado um pouco de tudo para facilitar a inserção no mercado. É importante ter foco e dedicação. Procurar estar sempre fazendo cursos para tentar se qualificar o máximo possível e ler muito. O mais importante na nossa profissão, além de saber fazer as perguntas certas, é saber ouvir. A informação precisa ser apresentada da forma mais fidedigna possível. Quem tem que tirar as suas próprias conclusões é o leitor, ou seja, a sociedade que está sendo informada para crescer enquanto indivíduo. Precisamos, também, fazer a nossa parte na construção de uma sociedade mais justa e igualitária porque a informação faz as pessoas questionarem, crescerem e aprenderem a viver entre os seus iguais.
Colab: Pode trazer atualizações da Pec do Diploma? Falar sobre e explicar a importância do diploma?
Sindijors: Nós jornalistas sofremos um golpe do Judiciário brasileiro, que atendeu as entidades representativas da grande mídia e extinguiu a exigência do diploma para o exercício da profissão, numa decisão do STF em 2009.
Em 2012, uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) restabelecendo essa exigência foi aprovada no Senado, por ampla maioria de votos. Mas a chamada PEC do Diploma está parada na Câmara dos Deputados.
E agora estamos trabalhando, em conjunto com a Federação Nacional de Jornalistas - FENAJ, e seus 31 sindicatos filiados, buscando o compromisso de cada parlamentar para que essa matéria seja aprovada! Precisamos de 308 votos a favor da volta do nosso diploma.
É importante lembrar que reconquistar o diploma é valorizar a nossa profissão, defender nossa regulamentação e a qualidade, a responsabilidade e a democracia no Jornalismo, na comunicação e na sociedade.
Colab: Como as redes sociais podem ajudar hoje na mobilização da PEC do Diploma para Jornalistas?
Sindijors: Vamos compartilhar as matérias e também os compromissos firmados pelos parlamentares, mostrar para sociedade a importância desse debate e usar a #AprovaPECdoDiplomaJá. Além disso é muito importante que existam espaços de debates nas faculdades de comunicação e nas redações para podermos conquistar a simpatia da sociedade para esta importante conquista. Somente com responsabilidade e qualificação é que vamos voltar a ter uma profissão respeitada no mercado de trabalho.
Colab: Atualmente, há muitos profissionais gaúchos registrados no Sindjors fora dos veículos tradicionais e trabalhando mais especificamente com o digital?
Sindijors: Sim. Recebemos constantemente relatos de colegas que estão, inclusive, abrindo suas próprias empresas para sobreviver neste nosso competitivo ambiente de trabalho. Por isso, precisamos também enquanto Sindicato de Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul (SindJoRS) reorganizar as nossas plataformas de luta para atender essas diferentes demandas atuais. Somente com uma entidade sindical forte é que poderemos ter força para conseguir conquistar cláusulas sociais e econômicas atrativas nos acordos coletivos e nas negociações coletivas de trabalho para as e os jornalistas nas diferentes frentes de trabalho que estão surgindo. O avanço é necessário e fundamental, mas com união e responsabilidade.
Créditos:
Reportagem: Laura Pontin
Fotos: divulgação
Edição: Bryan Moura, Rayssa Mossatti
Professora responsável: Michelle Raphaelli